Neste triste dia triste recebo a notícia: a Dona Berta de Bissau morreu ontem.
Conheci-a na varanda da Pensão Central, onde se chegava cansado pelas escadas de ferro. Depois do almoço - de que não se conhecia nem se perguntava a ementa, sentava-me com ela para conversar coisas de encantar. Anotei no meu caderno das deslembranças: Berta de Oliveira Bento, nascida em Cabo Verde, chegou à Guiné em 1948 para ajudar a irmã. Por amor a um português, a viagem de um mês durou para a eternidade.
Acho que por nunca ter tido filhos, éramos todos filhos dela. Mas a Dona Berta foi Avó e confidente de meio mundo e de outro meio também. Foi colo e conselho. E foi sempre a mão amiga de voz doce. Era Cabo-Verdiana, Guineense e Portuguesa, de orgulhosas comendas ao peito.
Por esta hora deve estar a mandar servir da terrina, aos anjos, aos santos e a outros que tais que o céu povoam, uma concha bem cheia da melhor sopa de ostras do universo. Se houve um ser e um estar lusófono, ela foi. Ou melhor, ela é. Porque não morre quem quer quando a humanidade não deixa.
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